A Covid-19 traz consigo muitas perguntas sem respostas e nossos pesquisadores buscam todos os dias responder cada uma delas. Os médicos-veterinários têm ocupado um papel de grande importância, esclarece o médico-veterinário e epidemiologista, Jonas Lotufo Brand de Carvalho, professor adjunto da Universidade de Brasília.
No Brasil, já existem médicos-veterinários trabalhando na área da saúde há vários anos. “Principalmente por causa do programa da Raiva. Os órgãos de saúde assumiram como tarefas delas, não esperaram a Agricultura. Na maioria dos países da América do Sul, quem controla os programas de controle da Raiva animal, são os órgãos da Agricultura. ” Ele explica também que essa diferença possibilitou o desenvolvimento no controle de zoonoses, pelos órgãos de saúde brasileiros.
Jonas foi selecionado para trabalhar junto a uma equipe do “Centers for Disease Control and Prevention (CDC) ”, para a criação de programas, como o epiSUS, do Ministério da Saúde brasileiro. Ele explica que na América-Central e na Ásia, praticamente não tinham médicos-veterinários trabalhando na saúde única. A atuou em países como Guatemala, Nicarágua, Costa Rica, República Dominicana além de Geórgia, Azerbaijão e Armênia,
Sobre Covid-19
O professor explica que ainda há vários estudos a respeito da origem da doença, mas o principal é o que coloca o morcego e o pangolim como intermediário, antes de chegar ao ser humano. “Há hipóteses de que o morcego, realmente seja o reservatório e o pangolim seja intermediário nessa cadeia, mas ainda se sabe muito pouco” e conclui que há ainda muito para se pesquisar antes de ter uma resposta definitiva.
Sobre o mercado chinês, aonde os primeiros infectados teriam circulado, o professor explica que, assim como na China, aqui no Brasil também existem feiras com circulação de animais e pessoas no mesmo ambiente e sem o devido controle. “Eu tenho ali o abate do animal de várias espécies no mesmo lugar, tenho seres humanos, então facilito muito a contaminação entre espécies. Eu crio a possibilidade do vírus de uma espécie entrar em contato com outra, em grande quantidade e isso facilita esse “spell over” (termo em inglês que é usado para explicar o salto entre espécies que um vírus ou bactéria faz em busca de novos hospedeiros) ”.
O risco do tráfico de animais
A questão da globalização de espécies invasoras é um grande problema que vai além da adaptação do animal de um ecossistema em outro. “É muito grave o manejo de espécies sem o devido controle rigoroso, como aconteceu no caso desses animais silvestres. É muito grave, esse caso mostra uma situação concreta, quando o jovem deixa o animal em uma caixa, ao lado do shopping e esse animal possa ir a nossa fauna e completar o seu ciclo. ” O professor conclui que, se a espécie invasora consiga se adaptar e se multiplicar, pode gerar um grave problema de saúde pública.
Mas o problema vai além. O professor explica que o risco vai além da presença de um animal invasor, pois ele traz consigo uma série de patógenos junto e com isso surgir novas zoonoses. “Ao chegar em nosso território ela encontro outros patógenos e isso facilite um spellover, esse é um risco muito grande”. Explica.
Médico-Veterinário e o novo normal
“O médico-veterinário tem um papel fundamental na construção desse novo normal, para que este seja um novo normal mais saudável, mais equilibrado ambientalmente, mais sustentável, mais justo e equilibrado para que todos possam ter condições mínimas de vida”. Em sua opinião, o médico-veterinário tem um papel fundamental, pelo fato dele entender o ecossistema e a saúde. Jonas explica que, recentemente foi criado o curso de saúde coletiva, porque justamente a saúde humana entendeu a necessidade de preparar um profissional para o todo. O olhar da saúde humana como coletivo e não só do indivíduo”.
Segundo Jonas, médico-veterinário traz na base da sua formação o entendimento de ecossistema, do coletivo, da espécie humana e das outras espécies animais. Então isso coloca o veterinário numa posição chave para poder ajudar a desenhar uma sociedade, um ecossistema em que se possa conviver com animais e o meio ambiente.
“No meu caso, eu trabalho nessa relação da saúde humana com o meio ambiente, para que a gente tenha um ambiente mais saudável para o convívio entre as espécies, principalmente a saúde humana”. Mas o professor relata que são várias as áreas que o profissional pode atuar, como por exemplo na pesquisa e desenvolvimento de vacinas ou tratamentos.
Para finalizar o Professor Jonas pontua que o Distrito Federal é a única unidade da federação que não tem médicos-veterinários de concurso no seu quadro. “No Distrito Federal não tem cargo para médico-veterinário, então, os poucos profissionais que o GDF tem são de pessoas que assumiram, por outros cargos. Isso limita muito a carreira desse profissional no DF e mostrar o potencial que a gente tem para contribuir com a saúde pública. ” Finalizou.
Jonas é formado em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual de Londrina (2000), mestrado em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2007) e doutorado em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2015). Desde o início de sua carreira trabalhou na área de saúde pública, inicialmente com morcegos hematófagos e no controle da Raiva e vigilância em saúde ambiental. Foi a partir destas experiências que ele despertou o interesse em estudar epidemiologia e ingressou no Programa de Treinamento em Epidemiologia Aplicada aos Serviços do Sistema Único de Saúde EpiSUS, do Ministério da Saúde, em Brasília e terminou por se estabelecer na cidade, desde então.
Assessoria de Comunicação Social do CRMV-DF
25 de agosto de 2020
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